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Angelina Jolie é extraordinária na sua interpretação de “Maria” (Callas) neste retrato do chileno Pablo Larraín sobre a maior cantora de ópera de todos os tempos. O primeiro filme a concurso da competição do Festival de Veneza 81, conta a história dos seus últimos dias, revividos e reimaginados e sobretudo muito sentidos pela grande estrela norte-americana.
Neste artigo:
- Uma diva serena no Festival de Veneza
- Intimidade e distanciamento
- O encontro entre Angelina e Brad
O cineasta chileno Pablo Larraín continua a realizar a sua galeria de retratos de grandes ícones femininos do século XX: depois de Jacqueline Kennedy (“Jackie“, 2006), e Diana Spencer (“Spencer“, 2021), foi a vez da famosa cantora de ópera Maria Callas.
Tal como aconteceu com Jackie Kennedy, interpretada por Natalie Portman, e Diana Spencer, por Kristen Stewart, Larraín escolheu novamente uma das atrizes mais conhecidas do mundo para interpretar Maria Callas: Angelina Jolie.
“Senti um grande privilégio por conhecer esta mulher e poder estar dentro da sua pele por momentos. Realmente preocupei-me profundamente com ela”, disse Jolie algumas horas antes da estreia mundial do filme ontem no Lido. “Acho que vou carregá-la comigo para toda a vida, como se fosse uma amiga”.
Se as mencionadas prestações valeram às duas atrizes nomeações para os Óscares, esta fabulosa interpretação de “Maria”, torna desde já Jolie — que dobra em play back e expressa-se como Callas na perfeição — uma forte candidata a ganhar a sua primeira estatueta como atriz principal. Isto, 25 anos depois de ter ganho Óscar de Melhor Atriz Secundária por “Vida Interrompida” (1999).
Uma diva serena no Festival de Veneza
Maria Callas, a maior cantora de ópera de todos os tempos, teve, sem dúvida, tal como as outras figuras da arte e entretenimento, uma vida única, bela mas bastante atormentada. Porém neste “Maria” — muito à custa de um excesso de auto-medicação — ou na visão de Larraín, Callas viveu apesar dos seus sonhos, com alguma serenidade e um certo conformismo, o afastamento dos palcos, os seus últimos dias em Paris, onde veio a falecer aos 57 anos, de síncope cardíaca, em duas sequências que cena que abre e fecha o filme.
Apesar da sua debilidade, Callas não morreu sozinha, como muitas das ‘estrelas’ do século XX (Marilyn Monroe, por exemplo), porque foi sempre muito apoiada e mimada pelo se mordomo Ferruccio (Pierfrancesco Favino), e a pela criada (Alba Rohrwacher). E é este estreito relacionamento, apesar do exílio forçado da cantora, que é destacado, com grande sensibilidade no filme.
De qualquer modo, embora “Maria”, se concentre no último período da vida da “Diva”, a história — que muitos já conhecemos — bastante rico em várias reconstituições da época — com a utilização de filmagens granuladas em super 8, sequências filmadas em pleno Scala de Milão ou cenas com Onassis (Haluk Bilginer); e também outras lembranças e referências da cantora, como uma longa entrevista — em que se expõe como nunca — que dá a um jornalista francês, que pretende fazer um documentário sobre a sua vida e que acaba por se apaixonar por ela, como acontece com todas as heroínas trágicas da ópera.
Intimidade e distanciamento em “Maria”
Larraín disse estar muito feliz por unir duas das suas maiores paixões: o cinema e a ópera, neste “Maria” e são esses momentos íntimos que consegue transmitir com objectividade e distanciamento os últimos dias de Callas, num filme que tal como os anteriores, para as outras actrizes, este também é todo feito e escrito à medida de Angelina Jolie.
Por isso é de destacar também o regresso de Steven Knight (“Peaky Blinders“) como argumentista de cinema. Esta é a sua segunda colaboração com Larraín, depois de “Spencer”. Porém esta história de Maria Callas parece ter ainda mais condimentos para apoiar a realização intimista e introspetiva de Larraín.
A juntar-se a Angelina Jolie, Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher, estão ainda Valeria Golino — no papel de irmã de Callas — e outros notáveis atores como Kodi Smit-McPhee e Haluk Bilginer, este que já interpretou várias vezes Aristoteles Onassis, o magnata grego da navegação e amante violento de Callas, cujo coração quebrará ao casar-se comJacqueline Kennedy.
O encontro entre Angelina e Brad
No meio das conhecidos conflitos judiciais entre os dois, há aqueles que especulam ou melhor que têm ficcionado um possível encontro fantasma Pitt-Jolie, tema que tem inflamado os mexericos e os mistérios da Laguna e da La Sereníssima.
Porém, a coisa é bastante mais prática, pois Alberto Barbera, o diretor-artístico do Festival já esclareceu este assunto, admitindo que foi um desafio trocarem-lhe as voltas: Barbera explicou de facto que as presenças de Angelina Jolie e Brad Pitt foram espaçadas e portanto não vão encontrar-se de certeza, garantindo que a atriz, após a apresentação de “Maria”, ontem dia 29 de agosto, segue com o realizador Pablo Larraín para uma nova estreia em outro festival internacional. Quanto ao ex-marido Pitt, só chegará ao Festival de Veneza no sábado dia 31, para a estreia de “Lobos Solitários” (“Wolfs”) de John Watts (fora da competição), num regresso ao lado de George Clooney.
O Festival de Veneza continua a deixar as suas surpresas.
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José Vieira Mendes
Jornalista, crítico de cinema e programador. Licenciado em Comunicação Social, e pós-graduado em Produção de Televisão, pelo ISCSP-ULisboa. É atualmente Editor Sénior da MHD – Magazine.HD. Foi Diretor da ‘Premiere’ (1999 a 2010). Colaborou no blog ‘Imagens de Fundo’, do Final Cut/Visão JL, no Jornal de Letras e na Visão. Foi apresentador das ‘Noites de Cinema’, na RTP Memória e comentador no Bom Dia Portugal, da RTP1. Realizou os documentários: ‘Gerações Curtas!?’ (2012); ‘Ó Pai O Que É a Crise?’ (2012); ‘as memórias não se apagam’ (2014) e ‘Mar Urbano Lisboa (2019). Foi programador do ciclo ‘Pontes para Istambul’ (2010),‘Turkey: The Missing Star Lisbon’ (2012), Mostras de Cinema da América Latina (2010 e 2011), ‘Vamos fazer Rir a Europa’, (2014), Mostra de Cinema Dominicano, (2014) e Cine Atlântico, Terceira, Açores desde 2016, até atualidade. Foi Diretor de Programação do Cine’Eco – Festival de Cinema Ambiental da Serra da Estrela de 2012 a 2019. É membro da FIPRESCI.
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